Dia 17 de janeiro amanheceu ensolarado como ele gostava. Comi o restinho do pote de geléia de morango que ele tinha feito pra mim e fui para o trabalho. No final da manhã, enviei um e-mail que não teve resposta. Horas ligando para o trabalho, para o celular, para casa. Incrível a rapidez com que comecei a construir a notícia na minha cabeça. Uma porta, o olho mágico caindo, um buraco revelando o que eu tanto temia. Finalmente a porta arrombada e eu sem coragem de entrar. ‘Meu amor, nosso filho’, eu me lembro de ter gritado. Um amigo me abraçava forte. Ainda bem que ele estava ali para me segurar. Lembro de uma sensação insuportável de injustiça e de uma esperança absurda de que tudo fosse um equívoco. Nossa vida me veio à cabeça como um filme, mas um filme sobre o futuro. Aquela era a morte de tudo o que eu e ele tínhamos sonhado. Como, se nosso filho ainda nem nasceu? Se ontem à noite ele estava comigo e tínhamos tantas certezas? Como, se ele tinha a alegria tatuada no braço? (…) Se o coração dele simplesmente parou de bater (ele provavelmente foi vítima de uma arritmia cardíaca), o coração do Francisco dentro de mim é que me manteve viva. Eu tinha medo de acordar no dia seguinte. Era tanta falta para tanto tempo pela frente. Mesmo assim, o humor não me faltou. ‘Já posso dar um depoimento em Páginas da Vida’, eu disse quando me levaram para casa. Era um jeito de sobreviver. A maneira suave como tudo aconteceu a mim soou como uma grande violência. E eu descobriria uma inesperada semelhança com minha avó materna. Alguém poderia dizer ‘Você é forte, já perdeu pai e mãe’. Mas é muito diferente. Ele não era de onde eu vim, era para onde eu ia.
Texto que Cris Guerra escreveu gravida ao encontrar seu namoro morto
Olá!
ResponderExcluirAdorei o seu blog e o conteúdo dele.
Têm post novo no nosso blog, dá uma passadinha lá? =)
Uma ótima sexta-feira e um final de semana maravilhoso!
Beijos
Me deu um aperto no coração quando eu li :(
ResponderExcluirhttp://manuelemota.blogspot.com/